domingo, 8 de julho de 2012

Cohabitat - A Revolução Industrial ao contrário

O século XIX trouxe consigo uma revolução; a era do vapor, a mecanização da agricultura e da indústria e a génese daquilo a que hoje em dia chamamos de sociedade de massa e de consumo. Somos pois, na esmagadora maioria, os descendentes dessas gentes do campo, das aldeias e das pequenas comunidades que na procura de melhores condições de vida, para fugirem da fome ou para viverem na cidade (na então considerada civilização) abandonaram o seu estilo de vida campestre e a agricultura. O século XXI promete trazer o contrário, o regresso às origens e uma esperança na consciencialização da necessidade de proteger o nosso planeta e os seus recursos. 


O resto da História todos sabemos. Trabalho infantil, semi-escravatura com turnos de 12 horas com direito apenas ao Domingo como dia de descanso, trabalhar para comer, acidentes de trabalho frequentes e acima de tudo o rápido desenvolvimento de zonas urbanas e periféricas onde a qualidade de vida era praticamente nula. O ensino alfabetizou mas também contribuiu para a criação de novos obreiros doutrinados no sistema criado pelo capital e pela religião dominante. Mas o tópico não pretende ser uma monografia acerca da Revolução Industrial. O que está a acontecer paulatinamente é uma Revolução Industrial ao contrário, o êxodo da cidade para o campo.

Na ultima década do século XX a expansão da Internet e o acesso à informação criou uma nova revolução naquilo a que se denominou de aldeia global. Estamos hoje em dia conectados como nunca estivemos e aqueles dias em que haviam pen friends, radio-amadores de CB expectantes no alcance das ondas de radio, colecionadores de selos e telefonemas para o estrangeiro pagos a peso de ouro são apenas uma visão do passado - ainda que fresca para muitos de nós que viveram essa transição.

 "Regresso ao Campo" - Freixo do Meio. Excerto do documentário emitido pela RTP.

Cada vez mais há uma necessidade de ser ecológico e de estar mais perto da natureza, o nosso meio ambiente onde sempre deveríamos ter estado. As imensas florestas de cimento e asfalto em que se tornaram as nossas cidades são consequência do nosso afastamento do meio rural que, também esse, sofre da influência dos processos de mecanização e dos tentáculos da indústria petro-química onde corporações como a Monsanto têm vindo a exercer uma influência nefasta com a criação dos transgénicos (conhecidos pela sigla em inglês GMO - Genetically Modified Organism).
É uma guerra que muitos ainda desconhecem ou nem sequer se interessam a não ser para se rirem ou por mera curiosidade quando o Greenpeace ou outras organizações pró-ambientais se manifestam pendurando banners ou organizando marchas de protesto prontamente desmanteladas pela "autoridade" a mando de interesses mais ou menos obscuros...

A resposta é apenas uma. Cortar o mal pela raiz! Procurar comprar produtos ecológicos ou directamente ao produtor, fazer uma pequena horta no quintal da casa ou mesmo na varanda do prédio naquilo a que se denomina como hortas de varanda. Outros decidiram viver na aldeia, mais afastados da cidade, em vez de se atirarem de cabeça num longo crédito à habitação para compra de um apartamento numa área urbana ou suburbana cercada de outros prédios semelhantes, asfalto e carros estacionados por todo o lado. 

A Flor da Permacultura: Autoria de http://www.permacoletivo.wordpress.com

Nesta Revolução Industrial cabe à permacultura um papel preponderante. Fontes "wikipedicas" dizem-nos que Permacultura é: "(...) um método holístico para planear, actualizar e manter sistemas de escala humana (jardins, vilas, aldeias e comunidades) ambientalmente sustentáveis, socialmente justos e financeiramente viáveis."



E é isso que esta a acontecer um pouco por todo o mundo onde a Polónia não é excepção. Nesse aspecto devo frisar que a Polónia proibiu e baniu o milho transgénico de origem norte-americana, fabricado pela Monsanto. Um bom principio num país com uma gigantesca área rural. Dentro do espírito da Permacultura surge o movimento Grupa Cohabitat que pretende criar um novo tipo de comunidade onde o desenvolvimento sustentável e um novo estilo de vida em comunhão com a natureza são a pedra de toque. O estudo e observação da habitação em sociedades rurais e na história dos nossos próprios países leva-nos à conclusão que há qualidade de vida sem recurso a construções feitas exclusivamente de betão armado, tijolos e cimento. Materiais naturais como madeira, palha e barro permitem a construção de habitação a baixo custo com conforto térmico onde se "respira" diferente das paredes de um qualquer apartamento urbano. A ideia é a de se criarem comunidades ecológicas, auto-sustentáveis onde se viva com qualidade. No site do Grupo Cohabitat podemos ler a seguinte citação que exprime bem qual a ideia das eco-comunidades:

"A mistura da arquitetura, tecnologia biológica, solar, eólica e eletrónica com a habitação, produção de alimentos e a utilização de resíduos dentro de um contexto ecológico e cultural será a base da criação e concepção de uma nova ciência para a era pós-petróleo." – John Todd


 Os "telhados verdes" ou greenroof



 E que tal um jardim florido, uma horta no telhado da casa ou no prédio? Colher tomate, feijão, alface, alhos, cebola ou couve ou ter um belo relvado e flores no topo de um prédio suburbano? Parece algo completamente disparatado e um escândalo para mentes conservadoras ou adeptos do ascetismo arquitetónico das nossas "selvas de cimento" mas no entanto já há países que passaram da teoria à pratica. O IGRA (International Green Roof Association) estava longe de imaginar o sucesso que iria ter a ideia do telhado verde. A verdade é que na Alemanha a recepção foi entusiástica e encontra-se por todo o globo, em zonas urbanas, prédios com telhados floridos e verdes em contraste com o cinzento circundante. 

Park Royal Green Roof em Singapura. Um novo tipo de prédio onde o verde impera aliado à tecnologia solar para a iluminação. Inauguração prevista este ano.

Uma possível visão do futuro das nossas áreas urbanas depois de quase dois séculos de industrialização e desligamento com a natureza nos meios urbanos.

Ainda visto por muitos como uma ideia utópica ou invenção de neo-hippies que ao por-do-sol fumam ganza ao redor de uma fogueira, a realidade é que as eco-comunidades e o conceito de permacultura saíram da teoria para a práctica. Estamos no crepúsculo daquilo que se espera seja mais que uma revolução. Go green deverá ser uma evolução. Uma nova maneira de estar e um progresso na história da humanidade.












 

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